A cor dourada é a marca mais visível das Helles, o sufixo ou prefixo que traz clareza a alguns estilos de cerveja do sul da Alemanha, ou não quisesse o nome dizer “claro” ou “pálido”. Mas, se olhares para os seus genes, verás bem mais do que ouro nestas variantes.

As cervejas que exibem Helles no seu nome denotam variações entre si, mas estarão para sempre unidas por dois pressupostos básicos: o equilíbrio e a simplicidade. Estas lager apresentam a crueza dos ingredientes sem grandes rodeios, são límpidas no copo e refrescantes na boca. O caráter transparente – sem nada a esconder – tornou as variantes Helles em estilos muito populares no sul da Alemanha, numa altura em que as checas Pilsner reclamavam supremacia. O que as distingue, fundamentalmente, é a coloração mais pálida – entre amarela e dourada – e a menor complexidade das Helles. Ao mesmo tempo, o foco no malte dotou-as de aromas de grãos que as aproximam do pão, num equilíbrio perfeito – quase de anulação – com o amargor dos lúpulos.

A original. A Munich Helles, ou simplesmente Helles, nasceu para competir e contrastar com o que se bebia na Baviera do século XIX. Tem um aroma doce e limpo, é muito subtil quanto aos lúpulos e as notas picantes ou de especiarias são fugazes. É esta discrição, aliás, que a distancia da clássica Pilsner checa, cerveja mais marcada pelos lúpulos e que impulsionou o nascimento da Munich Helles.

Quando, em 1894, Gabriel Sedlmayr, mestre na Cervejaria Spaten, criou a Munich Helles – a “clara de Munique”, traduzindo –, deu-se um abanão na capital da Baviera. O contraste foi óbvio, porque, até então, o quotidiano dos biergärten (as clássicas praças alemãs destinadas ao consumo de cerveja) era dominado pela escura Munich Dunkel. Surgia, assim, uma cerveja clara e refrescante para alegrar os dias. E conseguiu? Sim, rivalizando taco a taco com a Pilsner e tecendo uma série de comparações que perduram até hoje. A competição começou nas semelhanças e nunca se desfez pelas diferenças, encontradas sobretudo no maior equilíbrio entre o malte e os lúpulos, menor amargor e adstringência quase inexistente da Munich Helles. 

Duelos à parte, aos olhos, a Munich apresenta-se límpida e clara, aconchegada por uma espuma persistente. Na boca, encontras uma cerveja moderadamente encorpada e centrada no malte, com uma cremosidade que faz lembrar o pão. O teor alcoólico anda entre os 4,7% e os 5,4% e a carbonatação é média, fazendo com que se deixe beber com facilidade e leveza.

A simplicidade e o frescor da Munich Helles pedem pratos leves. Esta é uma excelente companhia para saladas, mariscos e petiscos pouco apurados, se o intuito da harmonização for encontrar mais semelhanças do que contrastes.

Um pouco mais audaz. As notas tostadas, o maior teor alcóolico (entre os 6,3% e os 7,4%) e o degrau acima na robustez da Helles Bock são os elementos que a distinguem do seu par, a Munich Helles. Além disso, a bebida – também conhecida como Maibock, a “cerveja de maio” – é cremosa e moderadamente encorpada. Como Helles que é, o aroma a malte está bastante presente, enquanto os lúpulos pouco se fazem sentir, tornando-a mais suave do que outras Bock. 

Com esta Helles, manténs-te no capítulo das cervejas macias, claras e refrescantes. Nada por acaso. O clima sempre teve influência no percurso da cerveja e a Maibock não escapa à História. Depois do rigor do inverno germânico, era preciso uma bebida à altura da primavera. A Helles Bock surgiu com esse propósito, o de alimentar a folia do equinócio, com um pouco mais de álcool e frescura.

O teor alcoólico da Helles Bock permite arriscar a combinação com carnes vermelhas ou de caça, mas também com alguns tipos de queijo, como o emmental, o gruyère, o parmesão ou provolone. As notas tostadas, por outro lado, vão realçar os sabores fortes destes alimentos.

Um pouco mais de fumo. No cardápio das Helles, entram ainda as Rauchbiers naturais de Bamberga, na Baviera. Mantêm-se no mesmo pantone, dos amarelos pálidos a dourados, e com o mesmo ênfase no malte. A diferença substancial é que estas Helles têm aromas levemente torrados, de madeira e de fumo, já que as Rauchbiers, no geral, são produzidas a partir de malte fumado. 

De resto, continuas perante uma cerveja encorpada, refrescante e com um amargor pouco presente. É mais uma equilibrista entre as Helles, mas com um extra: a leve sensação de veludo e doçura concedidas pelo fumo.

Os aromas fumados desta Rauchbier podem levar a diferentes combinações. Mas a aposta nos enchidos e acompanhamentos aromáticos, como arroz selvagem ou flores comestíveis, não deixa nenhum comensal deste mundo indiferente. Aqui, o reforço e prolongamento de sabores sairão vencedores.