Dirck Dicx nasceu em Haarlem, nos Países Baixos, em 1603, filho de um político local que era proprietário da cervejeira Het Scheepje. No início do século XVII, Haarlem era uma das mais importantes cidades do país e da Europa. Este período da História, aliás, tornou-se conhecido como a Idade de Ouro dos Países Baixos (1584-1702). Durante mais de um século, o pequeno país do Norte da Europa destacou-se como a primeira potência comercial do Ocidente, vivendo uma época de virtuosismo na produção artística, na ciência e no desenvolvimento social. 

Conhecedor dos segredos da produção de cerveja desde jovem, Dicx tornou-se no cervejeiro oficial da Halve Maen, a embarcação da companhia neerlandesa para a Índia Oriental, e a partir de 1626 serviu as milícias locais. Como oficial da Milícia Cívica de São Jorge, de Haarlem, foi retratado em dois quadros de Frans Hals: “Banquete dos Oficiais da Milícia de São Jorge”, de 1627 e “Os Oficiais da Milícia de São Jorge”, de 1639. 

Foi ao serviço da Halve Maen que Dicx chegou a Recife, em 1640, tendo começado a trabalhar como produtor de cerveja para o então governador dos territórios neerlandeses no Brasil, Johann Mauritius van Nassau-Siegen. 

À luz da História, e dos quase 400 anos que nos distanciam daquele momento, é impossível avançar todos os detalhes. Mas terá sido Dirck Dicx a produzir a primeira cerveja do Brasil. A primeira de muitas.

É aqui que a História fica mais turva, como uma boa Weiss. Sabe-se que Dicx vivia no Brasil em 1650, mas pouco mais se conhece  após esta data. Terá, possivelmente, continuado por terras de Vera Cruz, como tantos europeus fizeram naquela época, até à morte. Ou então regressou ao seu país após a chamada Insurreição Pernambucana. Em 1654, este movimento contra o domínio neerlandês da capitania de Pernambuco culminou com a expulsão deste povo europeu do Brasil.

Uma das consequências imediatas foi a interrupção da produção de cerveja no país. Foram precisos quase 150 anos para que os equipamentos e receitas cervejeiras voltassem a proporcionar momentos de prazer e partilha em terras de Vera Cruz. Nessa altura, a cerveja há muito que era apreciada e bebida na América do Norte. 

Hoje, juntas, as três Américas – do Norte, do Sul e do Centro – lideram o consumo de cerveja no mundo: 616,96 milhões de hectolitros em 2021, de acordo com dados da Statista. Uma herança que enaltece o pioneirismo de Dirck Dicx, um dos primeiros a produzir – e provavelmente a beber – uma cerveja naquele continente.