No século XIX, passaram por Weimar, cidade do estado da Turíngia, atual Alemanha, alguns dos grandes nomes da cultura daquele país: os românticos Goethe e Schiller, primeiro, e o filósofo Nietzsche, que viveu até 1900 na cidade que se tornou república. É provável que os três tenham degustado a Lichtenhainer, cerveja que atingiu, neste século, o pico da popularidade no estado que é hoje o “coração verde da Alemanha”.
Com raízes espalhadas por aldeias e pequenas vilas como Ammerbach, Ziegenhain, Winzerla, Wöllnitz e Lichtehain, que lhe dá o nome, a Lichtenhainer ultrapassou sucessivas fronteiras geográficas e tornou-se célebre em toda a Turíngia e estados vizinhos.
É o melhor elogio que se pode fazer a um estilo que, pelas suas características únicas, se tornou conhecido como o “ornitorrinco” das cervejas. Mas já lá vamos.
Geralmente servida em barril, a Lichtenhainer é uma cerveja de fermentação alta que utiliza 30 a 50% de malte de trigo e malte de cevada fumada. Faz parte da família das cervejas de trigo de alta fermentação e baixo teor alcoólico da Europa Central, como as também alemãs Gose e Berliner Weisse e a polaca Grodziskie. Não é tão ácida como a Berliner Weisse e tem parecenças com a Gose fumada, sem o coentro e o sal. Ou até com a Grodziskie com a acidez da Gose.
É neste labirinto de estilos e qualidades cervejeiras que se esconde a Lichtenhainer, fruto do seu balanço, acidez e toques de fumo únicos. A bebida partilha, ainda, uma característica com a Kellerbier, lager produzida desde a Idade Média: a maturação deve ser curta.
A acidez e o fumado são tão invulgares numa receita cervejeira que a Lichtenhainer ganhou a alcunha de "ornitorrinco" das cervejas. Ou será antes Dr. Jekyll, o médico com dupla personalidade (Mr. Hide) da obra gótica de Robert Louis Stevenson?
Quais as características da Lichtenhainer?
A Lichtenhainer é uma cerveja de trigo ácida, de caráter complexo mas refrescante devido à alta carbonatação e baixo amargor. O teor alcoólico situa-se entre os 2,5 e os 3,3%.
Aroma: Moderadamente forte a fumo (ainda que mais subtil do que a Rauchbier), com um leve toque de acidez. Notas moderadas de pão e grãos e ésteres frutados médios-baixos ( possivelmente maçãs ou limões).
No copo: De cor amarela intensa a dourada claro, a Lichtenhainer é transparente. Algumas versões, por não serem filtradas, são turvas. A espuma é branca e alta, compacta e persistente.
Na boca: Sensação de formigueiro, devido à acidez. Corpo médio a médio baixo.
Sabor: Frutado (limão e maçã), de intensidade moderada e acidez láctica limpa. Caráter fumado de intensidade média e final seco, com notas ácidas e fumadas no fim de boca. Baixo amargor.
Há outras curiosidades nesta cerveja, que pode facilmente ganhar uma nova alcunha: Dr. Jekyll e Mr. Hide. Em 1915, no livro “Die Bierbrauerei” [“A Cervejaria”, em português], os autores Wilhelm Rommel e Karl Fehrmann descreveram-na como uma cerveja clara produzida a partir de malte levemente fumado, “embora apenas o malte de cevada seja usado”.
Então por que razão a Lichtenhainer é considerada uma cerveja de trigo? A resposta é simples: não existe uma única receita para fabricar o estilo. Por vezes, a bebida era produzida com malte de trigo e cevada, outras vezes unicamente com malte de cevada.
É isso que nos diz o livro “Moderne Braumethoden” [“Métodos modernos de fabrico de cerveja”, em português], de Adalbert Johannes Olberg. Segundo o autor, a Lichtenhainer era produzida utilizando dois terços de malte de cevada e um terço de malte de trigo.
Rommel e Fehrmann, no livro “Die Bierbrauerei”, fazem ainda referência ao “mosto levemente lupulado [da Lichtenhainer], fervido muito brevemente e exposto a uma inoculação espontânea ou deliberadamente iniciada por bactérias do ácido láctico, [o] que dá à cerveja um sabor levemente ácido.”
Apesar das cervejas de alta fermentação possuírem tradição na cultura cervejeira alemã do século XIX, a invenção da refrigeração mudou as regras do jogo e tornou as lagers nas cervejas mais bebidas do mundo. Ainda assim, alguns estilos de cerveja de alta fermentação, nos quais se incluem a Lichtenhainer ou a Gose, continuaram a ser comercializados até à Segunda Guerra Mundial.
Após o conflito, a Lichtenhainer passou a ser fabricada em pequenas quantidades. Em 1983, a Brauerei Ed Barfuss Söhner, a última cervejeira a produzir a bebida, parou as máquinas. Felizmente, a interrupção durou apenas 14 anos. Em 1997, o bar Talschänke, situado em Wöllnitz, uma das vilas que responsáveis pelo aparecimento do estilo, construiu uma fábrica de cerveja e recomeçou a produção da Lichtenhainer, sob a marca Wöllnitzer Weißbier.
Nos últimos anos, a Lichtenhainer ganhou a atenção dos cervejeiros amadores devido à sua singularidade e versatilidade. Se te encontras neste grupo, conseguirás descobrir em poucos minutos, nos sites da especialidade, receitas para produzir a bebida em casa. Caso contrário, terás de planear uma viagem à bela Turíngia para provar a cerveja que é uma mistura de ornitorrinco com Dr. Jekyll e Mr. Hide.
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