A maior curiosidade sobre a cerveja sem álcool está no nome, mas há muitas outras características que fazem desta uma das 'cervejas da moda'. Fica a conhecer a bebida que celebra um século e que nasceu do outro lado do Atlântico.
Se a necessidade aguça o engenho, a abstemia reinventa a cerveja. Foi na sequência do National Prohibition Act (conhecido como Volstead Act), aprovado pelo congresso norte-americano em outubro de 1919, que surgiu a primeira cerveja sem álcool. À luz desta legislação, nenhuma bebida podia conter mais de 0,5% de álcool em volume, o que fez com que as cervejeiras começassem a produzir cervejas mais pálidas e de sabor suave. Em 1933, a proibição foi retirada, mas o gosto de muitas pessoas por esta cerveja mais ‘leve’ manteve-se.
Hoje, a cerveja sem álcool é não só uma presença incontornável no portfólio das principais marcas, como representa um segmento de mercado em ascensão. É certo que o seu sabor foi criticado por palatos mais conservadores, mas os processos de desalcoolização têm vindo a ser aperfeiçoados. Como resultado temos cervejas sem álcool cada vez mais variadas e de sabor autêntico, ainda que a designação continue a gerar algumas dúvidas.
Na realidade, a cerveja sem álcool tem uma quantidade residual de álcool. Desde logo, porque esta é uma consequência natural do processo de fermentação. Por definição, a cerveja sem álcool é toda a bebida proveniente da fermentação do mosto cervejeiro que teve o seu teor de álcool reduzido.
Segundo a legislação portuguesa, para ter esta designação a cerveja deve ter menos de 0,5% de álcool em volume, um limite de teor alcoólico que é o mesmo para a generalidade dos países. Pode ainda parecer um volume alcoólico significativo, mas na realidade é tão pequeno que chega a ser comparável com a quantidade de álcool presente em alimentos comuns. Fica a saber que, por exemplo, uma banana madura contém aproximadamente a mesma quantidade de álcool presente numa destas cervejas.
Os números mostram que a venda de cervejas sem álcool e de baixo teor alcoólico na Europa Ocidental cresceu 18% nos últimos 5 anos (até 2018). E, até 2022, prevê-se que cresça mais 12%. Neste cenário, importa perceber o que se altera em termos de processo produtivo quando se fabrica cerveja sem álcool.
Não é um segredo bem guardado porque hoje são muitos os métodos para retirar o álcool à cerveja. No entanto, cada cervejeira tem vindo a aperfeiçoar os seus próprios processos. Em termos gerais, existem duas abordagens:
Primeira | Foca-se em alterações biológicas ao processo tradicional de produção de cerveja, que podem ser, por exemplo, ao nível da moagem ou da fermentação interrompida dos cereais, com o objetivo de limitar a formação de álcool.
Segunda | É a mais usada, focada em retirar o álcool da cerveja tradicional. Tal é feito através de destilação - como se fosse para fazer licor, mas em vez de se preservar a parte alcoólica, é esta que é eliminada. Há duas formas de conseguir este efeito sem aquecer a cerveja, o que é essencial para preservar o seu sabor:
Destilação a vácuo: A cerveja é colocada sob vácuo. A alteração de pressão atmosférica permite que o produtor ferva os líquidos da cerveja a baixa temperatura e destile o álcool.
Osmose reversa: A cerveja é passada através de um filtro através do qual só o álcool, a água e alguns ácidos conseguem passar. O álcool é destilado, enquanto a água e os ácidos remanescentes são adicionados à mistura que ficou do outro lado do filtro.
Qualquer que seja o método, os ingredientes principais que conferem aromas e sabores à cerveja são os mesmos para a cerveja sem álcool: lúpulo e malte. E, com o crescente interesse do público, as cervejeiras investem cada vez mais no aperfeiçoamento das misturas de lúpulo e malte utilizadas. O resultado são cervejas cada vez mais saborosas, que dificilmente se podem comparar às cervejas sem álcool dos tempos do proibicionismo.
sabias que
Em 1992 começou a ser comercializada a primeira cerveja sem álcool em Portugal. A Unicer lançou a marca Cheers e, mais tarde, criou a Super Bock Twin para o mesmo segmento de mercado.
No Reino Unido, a cerveja com teor alcoólico inferior a 0,5 é designada “de-alcoholised beer”. A “alcohol-free beer” tem menos de 0,05% de álcool em volume. Existe, ainda, a “low-alcohol beer”, com menos de 1,2%.
Por ser uma bebida com uma percentagem de álcool relativamente baixa, considera-se que a cerveja pode integrar um estilo de vida saudável numa população adulta, desde que bebida com moderação.
Na cerveja sem álcool, acrescem os benefícios do baixo (ou inexistente) teor alcoólico. É o caso, por exemplo, do menor número de calorias, refere o site do Reino Unido Drinkaware. No entanto, é necessária mais investigação sobre os efeitos da cerveja sem álcool na saúde.
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