As alterações climáticas atingem todos os setores de atividade económica e a indústria cervejeira não é exceção. Períodos de seca cada vez mais prolongados, calor extremo e fenómenos atmosféricos imprevisíveis, como as chuvas torrenciais, queda de granizo e inundações, são algumas das ameaças a que uma das bebidas mais apreciadas no planeta está sujeita.
Simplificando um processo complexo, podemos dizer que a cerveja é produzida a partir de cereais, sobretudo cevada, lúpulo e água. Cada um tem a sua função, mas os três são igualmente importantes na produção cervejeira. Para crescerem, as culturas de cevada e lúpulo necessitam de solo, água, calor e luz solar apropriados. Com a temperatura a disparar nos termómetros, as datas de floração e colheita dos cereais já ocorrem vários dias mais cedo, na Europa, impactando a produção cervejeira.
Antes de começarmos a explicar-te os desafios das alterações climáticas para a indústria cervejeira, temos de alertar que não há uma resposta direta à pergunta deste artigo. Por um lado, parece óbvio responder que “sim”. Há muito que as consequências das alterações climáticas são uma realidade global e os seus efeitos catastróficos: piores colheitas de cereais, alimentos com sabores alterados ou escassez de produtos.
Por outro, a indústria cervejeira reconhece o impacto negativo das alterações climáticas em matérias-primas como os cereais, o lúpulo ou a água e tem desenvolvido planos para minimizar esta situação. Ainda assim, dar-te-emos conta dos grandes desafios da indústria cervejeira para as próximas décadas.
Em 2018, um estudo do jornal Nature (abre link em inglês) concluiu que o aumento das temperaturas no globo e secas mais frequentes podem levar ao aumento do preço de ingredientes-chave da cerveja, como a cevada. Após estudar o mapa das probabilidades de ondas de calor entre 2010 e 2099, em regiões de plantação de cevada, a Nature descobriu que as colheitas diminuirão entre 3 a 17%, o que afetará os preços deste cereal. Mas não só. Também o sabor da cevada poderá alterar-se em condições atmosféricas distintas. A luz, a temperatura (noites mais quentes), os insetos, tempestades de vento e outras intempéries afetam o modo como as plantas crescem. Ao tentar adaptar-se a estas alterações, os cereais podem perder o seu sabor tradicional.
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O sul da Europa será uma das regiões do Planeta mais afetadas pela subida das temperaturas e Portugal não escapará a este destino. Deste modo, será mais difícil cultivar cereais em regiões com maior probabilidade de seca extrema, ondas de calor e a redução de precipitação e água disponível. A situação é ainda mais problemática porque Portugal é um país tradicionalmente deficitário em cereais.
Apesar de o lúpulo crescer em qualquer clima, as culturas comerciais desta planta trepadeira florescem entre os paralelos 35 e 55. Por um lado, o rei do amargor necessita de longos dias de verão para ganhar a sua altura - chega a crescer 50 centímetros por semana. Por outro, e sendo uma planta que consegue aguentar até 30 graus negativos, necessita de cinco a seis semanas de temperaturas baixas para que a colheita seja bem-sucedida.
No futuro, é provável que o lúpulo, tal como a cevada e outros cereais, passem a ser cultivados em regiões do globo onde, até hoje, não existem condições perfeitas para o fazer: por exemplo, no extremo norte da Europa. Esta é mais uma variável que irá jogar com o sabor do principal ingrediente da cerveja.
De acordo com a Agência Europeia do Ambiente, a produtividade agrícola do norte da Europa poderá aumentar, graças a um período de cultivo mais prolongado e à menor ocorrência de geadas. Além disso, o aumento da temperatura em países que associamos a neve e a frio, como a Escandinávia, vai originar o cultivo de outras plantas nesses terrenos.
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Em algumas regiões do mediterrâneo, as culturas estivais poderão passar a ser cultivadas no inverno, devido ao calor extremo e ao stress hídrico do verão. Entretanto, os agricultores podem compensar a propagação de algumas espécies, nomeadamente insetos, de ervas daninhas invasoras ou de doenças, com práticas agrícolas como a rotação das culturas em função da disponibilidade de água, e o ajustamento das datas das sementeiras à temperatura e aos padrões de precipitação.
Entre 90 a 95% da cerveja é composta por água, sendo que, para produzir cada litro de cerveja são necessários entre quatro a cinco litros deste recurso natural escasso. No entanto, mais de 90% da água utilizada na produção de cerveja destina-se à agricultura, segundo o World Wide Fund for Nature (abre link em inglês). Há espaço para algum otimismo, porém. A instituição tem trabalhado com a indústria cervejeira para melhorar a disponibilidade da água, assim como a sua qualidade. Isto tem acontecido, sobretudo, através da proteção dos rios e outros recursos aquíferos.
Em fevereiro de 2022, o jornal Nature Climate Change reportou que o oeste norte-americano estava a passar pela pior seca dos últimos 1200 anos. Conhecidos pela diversidade, pujança e inovação da sua cultura cervejeira, estados como a Califórnia, Colorado e Wyoming sentem, a cada ano, uma maior dificuldade em obter água para produzir as suas cervejas.
Um exemplo: a maioria das marcas de cerveja sediadas no Sul da Califórnia mistura água do rio Colorado com a neve da Sierra Nevada - ambas viajam até aquele estado através do Aqueduto da Califórnia. Com as cotas de neve em mínimos históricos no Colorado, a solução foi aumentar a percentagem de água vinda do rio Colorado, que recebe uma maior quantidade de minerais ao longo do caminho. Como resultado, a dureza da água tem aumentado de 100 para 400 partes por milhão (ppm).
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Em Portugal, a escassez da água é um tema cada vez mais relevante na sociedade. O pico do debate surgiu nos invernos de 2018 e 2022, devido à ausência de precipitação no país. O problema, porém, ultrapassa em muito as fronteiras portuguesas e assume-se como calamitoso no Médio Oriente e em África.
Uma cerveja que é uma ação de marketing
Para chamar a atenção dos consumidores, mas também da restante sociedade, para o combate às alterações climáticas, a produtora norte-americana New Belgium desenvolveu uma cerveja, diríamos, apocalíptica. A Torched Earth Ale é uma edição limitada produzida com água contaminada com fumo, dentes-de-leão e grãos tolerantes à seca. A bebida, como seria de esperar, não é a mais saborosa do cardápio. Mas o resultado da ação surtiu efeito e explicou como as alterações climáticas têm uma influência muito grande no futuro da cerveja.
“O líquido escuro e amiláceo, com aromas defumados, provavelmente não ganhará prémios, mas destaca os riscos das alterações climáticas para os amantes de cerveja de todo o mundo”, concluiu a marca. Cabe aos consumidores, aos reguladores e à indústria tomarem decisões e perceber que cerveja querem beber em 2050 ou 2100.
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